Livro da Vida 13, 10

Outra tentação é ter pena dos pecados e faltas dos outros. Tudo isso se apresenta sob a aparência de zelo pela virtude. Precisamos saber discernir e ser precavidos. O demônio instiga a querermos remediar de pronto os males, fazendo-nos acreditar que o nosso único objetivo é zelar pela honra de Deus e desejar que Ele não seja ofendido. Isso nos inquieta de uma maneira que impede a oração. O maior prejuízo é estarmos convencidos de que tudo isso é virtude, perfeição e grande zelo pela glória de Deus. Não falo da dor causada por pecados públicos — se eles forem costumeiros — de uma Congregação ou dos males que chegam à Igreja com as heresias, causa da perda de tantas almas. Essa dor é muito saudável e, por isso, não inquieta. A segurança para quem começa a fazer oração está em deixar tudo e todos e só querer saber de si e de contentar a Deus. Isso é muito conveniente, porque, se eu fosse contar os erros que vejo serem cometidos por se confiar na boa intenção!… Procuremos sempre olhar as virtudes e coisas boas que virmos nos outros e encubramos os seus defeitos com os nossos grandes pecados. Este modo de agir — mesmo que, no princípio, não seja perfeito — nos dá uma excelente virtude: considerarmos todos melhores do que nós; fazendo assim, vamos progredindo, com o favor de Deus — que é necessário em tudo e sem o qual os nossos esforços serão inúteis. Supliquemos ao Senhor que nos conceda essa virtude, porque, se fizermos o que está ao nosso alcance, Ele não nos faltará.

        "A segurança para quem começa a fazer oração está em deixar tudo e todos e só querer saber de si e de contentar a Deus". Sigamos as dicas do Frei Ivo. 
Mãos à obra! Cuidando da "minha" tela, no mais a Deus pertence

        Belíssimo o texto de Santa Teresa, acima colocado.
        De uma atualidade impressionante.        
        Teresa nos pede para que tenhamos todo o cuidado em não perdermos tempo com as fragilidades, faltas e pecados dos outros.
        E nossa Santa é muito realista ao afirmar que, quanto aos pecados públicos que se cometem, claro que devemos sentir a dor por eles serem cometidos e acontecerem.
        Na verdade, seria uma alienação muito grande de nossa parte se nós não sentíssemos a dor de vermos este “corpo da Igreja” sendo ferido e machucado. Claro que nós sentimos e sofremos com isso, pois nós também “padecemos”, como “corpo da Igreja”, também “padecemos” e sofremos pela presença de todas estas limitações.
        O que Teresa nos chama a atenção e nos pede, é de que saibamos cuidar da nossa caminhada pessoal, do nosso relacionamento com Deus.
        Por que, de repente, nós nos envolvemos de tal modo com os pecados dos outros, que acabamos por não vivermos bem o nosso relacionamento com Deus.
        E isso pode ser um jeito bem esperto do “tentador nos enrolar”.
        Digo que um jeito bem esperto do “tentador nos enrolar”, pois de repente, começamos a pensar: “O que adianta eu querer viver este tipo de relacionamento com Deus, se nada faço para impedir que meu irmão ou minha irmã, continuem vivendo mergulhados nestas faltas e pecados.
      

 Devemos, sim, nos preocupar com este irmão ou com esta irmã. Devemos nos perguntar o que podemos fazer por este irmão ou esta irmã. Porém, não podemos deixar que esta preocupação nos desvie do foco principal que é o meu relacionamento com Deus.
        Neste sentido é muito importante que a gente “não se deixe enrolar pelo tentador” que, quem sabe, nos tente fazer desanimar da caminhada que estamos realizando ou que nos tente,  para vivermos numa “mediocridade”, nos firmando: “Pra que tanto esforço. Viva aquilo que dá. Deus vai te entender. Afinal de contas, você é humano como todos e Deus não vai te cobrar perfeição.”
        Cuidado com esta tentação. Não se deixe “enrolar pelo tentador”!
        Na nossa caminhada de relação com Deus,  não devemos nos preocupar com o que pensam ou dizem de nós. 
        Devemos, sim,  nos preocupar,  com o que nós sabemos que somos diante de Deus e com o que nós sabemos que Deus sabe de nós. Termos consciência disso é fundamental. Termos consciência de que “Deus vê além das aparências” e que Ele sabe muito bem o que existe dentro de nós.
        Alguém diz: “A vida é uma prova difícil... E não adianta querer copiar as respostas dos outros, porque as perguntas são diferentes.”
        Pegue o pincel, retrate numa tela esta linda imagem de alguém que está em paz, transmitindo serenidade, precisamente por estar se sentindo olhado e amado por Aquele que o vê,  muito além das aparências.
 

Frei Ivo Bortoluz OCD

                                                                         

Ó Santa Teresa de Deus amada,
grande amiga do Senhor, dá-nos sede de Deus...      

"Devemos, sim, nos preocupar com este irmão ou com esta irmã. Devemos nos perguntar o que podemos fazer por este irmão ou esta irmã. Porém, não podemos deixar que esta preocupação nos desvie do foco principal que é o meu relacionamento com Deus."  Dá-nos Senhor neste Tempo da Quaresma, tempo propício de reavivar nosso caminho de relacionamento Convosco, que nos leva a conversão, mudança de mentalidade, para ser sinal de fé e esperança para todos que de nós se aproximarem.Amém