Terei de recorrer a alguma comparação, embora, por ser mulher, prefe¬ris¬se evitá-las e escrever simplesmente o que me mandam. Mas é tanta a di¬ficuldade da linguagem espiritual para os que, como eu, não têm instrução que terei de buscar algum meio, correndo o risco de nem sempre acertar nes¬sa comparação; divertirá vossa mercê ver tanta ignorância.
Parece-me que li ou ouvi esta comparação — como tenho memória ruim, não sei onde nem por quê; mas, para o meu objetivo aqui, basta-me citá-la. Quem principia deve ter especial cuidado, como quem fosse plantar um jardim, para deleite do Senhor, em terra muito improdutiva, com muitas ervas daninhas. Sua Majestade arranca as ervas daninhas e planta as boas. Façamos de conta que isso já aconteceu quando uma alma decide dedicar-se à oração e começa a se exercitar nela. Com a ajuda de Deus, temos de procurar, como bons jardineiros, que essas plantas cresçam, tendo o cuidado de regá-las para que não se percam e venham a dar flores, cujo perfume agradável delicie esse nosso Senhor, para que Ele venha a se deleitar muitas vezes em nosso jardim e a gozar entre essas virtudes.
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Nossa querida santa do Carmelo chileno, Teresa dos Andes, assim nos diz: “Somos miseráveis e caímos a cada passo. Somos crianças que ainda não sabem andar. Como é que Jesus se vai aborrecer com quedas que acontecem por causa da nossa ignorância, da nossa debilidade? Não abra espaço para o desânimo entrar, dentro de você.”

No texto de Teresa de Jesus, colocado no início desta reflexão, nossa Santa nos mostra um jeito tão bonito e tão prático de encarar a realidade da vida de oração e, diria eu, a realidade de toda a nossa existência, nas suas múltiplas e numerosas maneiras de viver.
Teresa de Jesus afirma que, quem toma a iniciativa de preparar o terreno, é o Senhor e que a nós, cabe depois, ir cuidando desse terreno, como “bons jardineiros!”


“Sermos bons jardineiros”, é o grande desafio que temos para viver bem esta vida que de Deus recebemos!


“Sermos bons jardineiros”, é sabermos cuidar de tantas e tão pequeninas coisas, para podermos melhor seguir a Jesus!


“Sermos bons jardineiros”, é termos este cuidado de saber “regar” esta terra da vida, com tantos e tão diferentes tipos de “água”, para que esta terra possa produzir muitas plantas!


“Sermos bons jardineiros”, é fazermos com que estas plantas produzam flores perfumadas, cujo perfume seja um lindo hino de louvor e de gratidão ao Senhor!


“Sermos bons jardineiros”, é termos consciência de que “QUEM AMA, CUIDA!”

“Sermos bons jardineiros”, é termos certeza de que precisamos perseverar no cultivo do terreno da vida que nos foi dada e que não podemos desanimar quando, por sermos pequenos, pobres e miseráveis, quem sabe não cuidamos bem desta terra recebida.


“Sermos bons jardineiros”, é termos a certeza de que Deus nunca cansa de nos cuidar, de nos amar, de nos compreender e de nos perdoar.
E é precisamente aqui que entra Teresa dos Andes quando nos diz: “Somos miseráveis e caímos a cada passo. Somos crianças que ainda não sabem andar. Como é que Jesus se vai aborrecer com quedas que acontecem por causa da nossa ignorância, da nossa debilidade? Não abra espaço para o desânimo entrar, dentro de você”.


Nesta caminhada de “sermos bons jardineiros,” nunca podemos nos acomodar nas imperfeições e no pecado. Porém, também, nesta caminhada de “sermos bons jardineiros”, nunca podemos desanimar por causa do pecado.
Precisamos andar, caminhar, perseverar!
Quem se coloca a caminho, sempre corre o risco de cair. E, só não cai, quem sempre fica deitado. Porém, quem sempre fica deitado, nunca sai do mesmo lugar.


Para “sermos bons jardineiros”, como nos pede Teresa de Jesus, não podemos ter medo de cair, de errar, de fracassar.
Para “sermos bons jardineiros”, não podemos desanimar nos momentos mais difíceis que a vida nos apresenta em todos os sentidos e em todas as dimensões.


Veja o que nos diz o Papa Francisco de uma forma tão simples, humilde e verdadeira: “Sou pecador. Não sou infalível. Eu também passo por momentos de vazio interior e de escuridão, momentos nos quais se chega a duvidar da existência de Deus. Não quero dizer que a crise seja “o pão nosso de cada dia da fé. Porém, uma fé que não atravessa crises para crescer, é uma fé que se mantém infantil”.
Na caminhada que você está fazendo, seja dentro do campo que for, nunca esqueça de que Deus ama você, mesmo naqueles momentos em que, quem sabe, você não é “um bom jardineiro”.


Por isso mesmo, pegue o “pincel” e retrate na tela da vida, aquela linda cena de filho ou filha que se deixa abraçar pelo Pai, e que neste abraço vai descobrindo sempre mais que “para sermos bons jardineiros” precisamos tomar consciência de que: “QUEM AMA, CUIDA”!

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