Que eles falem disso (outros para quem basta a verdade da fé para fazerem obras muito perfeitas); eu falo do que aconteceu comigo, como me ordenaram. Se eu estiver errada, aquele a quem me dirijo destruirá esta relação; pois ele saberá entender, mais do que eu, o que está errado; a ele suplico, pelo amor do Senhor, que publique o que eu disse até agora da minha vida ruim e dos meus pecados (concedo-lhe a licença a partir de agora, estendendo-a a todos os meus confessores, sendo um deles aquele a quem me dirijo), e, se quiser, enquanto eu estiver viva, para que o mundo não se engane mais pensando que há em mim algum bem; e por certo, digo sinceramente, pelo que agora sinto, isso me trará grande consolo.
Para o que vou falar, não dou igual licença, nem desejo que, caso o mostrem a alguém, digam quem o escreveu, quem é, nem a quem sucedeu; por isso, não direi o meu nome, nem o de ninguém, tentando escrever o melhor que puder para não ser reconhecida, e assim o peço pelo amor de Deus. Bastam pessoas tão instruídas e sérias para aprovar alguma coisa boa se o Senhor me der graça de dizê-la; se houver algo assim, será Dele, e não meu, porque não sou instruída, não tenho boa vida, nem fui educada por mestres nem por ninguém (porque só os que me mandaram escrever sabem que eu o faço, e no presente não está aqui); e quase furtando o tempo, e com pesar, porque me impede de fiar e porque, estando em casa pobre, há muitas ocupações… Assim, mesmo que o Senhor me tivesse dado mais capacidade e memória, podendo eu me aproveitar, com esta, do que ouvi ou li, o que não é o caso, se alguma coisa de bom eu disser, é o Senhor que o quer para algum bem; o que for ruim terá vindo de mim, e vossa mercê o suprimirá. Em nenhum dos casos há proveito em dizer o meu nome. Enquanto eu estiver viva, está claro que não se deve divulgar o bem; estando morta, isso de nada vai servir, a não ser para que o bem perca a autoridade e o crédito por ser dito por uma pessoa tão ínfima e ruim.
|
Ao ler o texto de Teresa, acima colocado, logo “voei” para o evangelho que narra a oração do Fariseu e do Publicano. (Lc 18, 9 – 14)
O Fariseu, se coloca bem lá na frente, diante do altar e vai falando tudo aquilo que faz de bom, por causa de Deus.
O Publicano, fica na entrada da Igreja. Nem sequer tem coragem de erguer a cabeça. Apenas murmura, “tem piedade de mim!”
O primeiro, se orgulha de tudo o que faz e chega a cometer a “cretinice” de se comparar com os outros e, como é lógico, a diminuir os outros, como o faz quando diz: “não sou como este pobre publicano que está ali, na entrada do Templo.”
O segundo, apenas se apresenta com a sua pobreza. A pobreza de seus pecados.
Diante deste jeito de ser destas duas pessoas, Jesus conclui a narração dizendo que “o publicano voltou parta casa justificado!”
Misericórdia tem tudo a ver com humildade!
Quem é misericordioso, sempre é humilde, simples, compreensivo!
Quem é humilde, sempre é misericordioso, acolhedor, cativante!
Quem é misericordioso, sempre tem um coração que não faz diferença e que a todos trata com igualdade!
Quem é humilde, sempre tem um jeito bonito de contagiar as pessoas para o bem e de animar as pessoas a retomarem a caminhada para o bem!
Quem é misericordioso, sempre procura entender o outro nas suas falhas, limitações e pecados!
Quem é humilde, nunca julga e nem condena aquele que errou, pois tem consciência de que todos somos pecadores! Como nos diz o Papa Francisco “todos somos pecadores, começando por mim.”
O Papa Francisco, falando sobre isso, assim nos diz:
“A parábola do fariseu e do publicano nos ensina qual é a atitude certa para rezar e pedir a misericórdia.
O fariseu, mais do que rezar, orgulha-se de si mesmo e despreza os pecadores.
O publicano, nos seus gestos de contrição e nas poucas palavras que pronuncia -
“ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador”,- dão testemunho de sua condição miserável. O publicano comporta-se humildemente, certo de ser apenas um pecador necessitado de compaixão.
Se o fariseu não pede nada porque já tinha tudo, o publicano só pode mendigar a misericórdia de Deus.
Só a oração humilde obtém misericórdia.”
Num mundo marcado pela “mundanização”, no dizer do Papa Francisco, precisamos cultivar um coração misericordioso.
E cultivar um coração misericordioso, é sabermos viver com igualdade, sem fazermos distinção de pessoas, sem nos julgarmos melhores.
Cultivar um coração misericordioso, é fazermos destes nossos corações, verdadeiras “Portas Santas”, sempre abertas para acolher a todos com um amor sem fronteiras.
Cultivar um coração misericordioso, com aquela humildade que me faz ter consciência, de que eu sou igual a todas as pessoas: pobre, pequeno, pecador, miserável. Humildade que faz com que eu seja o primeiro a bater no peito para reconhecer que eu sou pecador.
Olhando para Teresa e contemplando a Parábola do Fariseu e do Publicano, pegue o o “pincel de sua vida” e tente retratar um quadro bonito e cativante, onde na cena se destaque esta “Porta Santa”: um coração acolhedor e encantador, por dele estar saindo humildade e misericórdia!
Frei Ivo Bortoluz OCD
Vamos rezar com as Irmãs...
Ó Santa Teresa caminhai conosco
para daí seguirmos contigo...
Como é belo e grande, o coração e a vida conduzidos pela misericórdia e a humildade. Sabe ser e sabe fazer, ser presença em todos os momentos para todos
e fazer atos de misericórdia sem conta a todo instante, espontânea e alegremente.
Fazei ó Deus que reconhecendo o quanto me aproximo de Vós quando simplesmente desejo e RECONHEÇO quem sou e o que devo fazer para agir como Vós agistes por toda a vida de Jesus. Dá-me ó Deus reconhecer o valor de cada pessoa de quem me aproximo, que o meu coração acolhendo, seja um reflexo vivo do Teu amor
e da Tua misericórdia. Amém.
Santa Teresa de Jesus: Rogai por nós.
Amém.
|